O Poder do "Como Foi Para Você?": Como o Feedback Transforma a Terapia e a Vida.
Na terapia, a pergunta “Como foi para você?” vai muito além de uma simples curiosidade: ela abre espaço para reflexão, autoconhecimento e crescimento. O feedback é uma ferramenta poderosa que transforma não apenas o processo terapêutico, mas também a forma como nos relacionamos no dia a dia. Descubra como essa prática fortalece vínculos, promove mudanças e amplia a consciência emocional.
Imagine que você está aprendendo a tocar um instrumento musical. No começo, tudo parece difícil: os dedos não obedecem, as notas saem erradas, e você nem sempre entende o que o professor quer dizer. Mas, a cada tentativa, ele vai te dando dicas: “Seu polegar está muito tenso”, “Essa nota foi ótima!”, “Vamos tentar de novo, mais devagar”. Esse feedback — esse diálogo constante entre você e seu professor — é o que vai transformar um amador em alguém capaz de tocar uma música inteira com confiança.
Agora, substitua o violão por sua mente, e o professor por um terapeuta. É assim, mais ou menos, que funciona a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): um processo de aprendizado em que o paciente e o terapeuta trabalham juntos, se ajustando o tempo todo, com base em feedbacks honestos e diretos. Só que, ao contrário do que muitos pensam, o feedback na terapia não vem só do terapeuta para o paciente. Ele vai em todas as direções — e é isso que o torna tão poderoso.
Um diálogo aberto e contínuo.
Na TCC, o terapeuta não é um “especialista no alto” ditando verdades. Ele é mais como um treinador de mente. Durante as sessões, ele observa, pergunta e dá devolutivas: “Percebi que toda vez que falamos sobre trabalho, sua respiração muda. Você notou isso também?” Esse tipo de observação ajuda o paciente a se conectar com o que está acontecendo dentro dele — como um espelho que mostra o que às vezes não conseguimos ver sozinhos.
Mas o paciente também tem voz. E não apenas permissão, mas incentivo para dizer: “Hoje eu não entendi bem o que você quis dizer”, ou “Aquela técnica de respiração me deixou mais ansioso, não ajudou”. Esse retorno é essencial. Imagine um professor de natação que insiste em ensinar o estilo livre a alguém que se sente mais seguro no peito — sem feedback, o aluno pode desistir. Na terapia, sem esse diálogo, o tratamento pode perder o rumo.
Quem mais dá feedback?
O interessante é que o feedback vai além da sala de terapia. Em treinamentos, terapeutas gravam sessões e recebem comentários de supervisores — como um atleta que analisa vídeos de seus jogos para melhorar. Em terapias em grupo, os colegas podem dizer: “Quando você falou daquele jeito, parecia muito seguro — me deu coragem para tentar também”. Até mesmo o público em uma apresentação pode dar feedback real quando alguém está enfrentando o medo de falar em público: “Você gaguejou no começo, mas depois se acalmou. A plateia nem ligou”.
E tem até tecnologia nisso tudo. O biofeedback, por exemplo, usa sensores para mostrar, em tempo real, como o corpo está reagindo: “Sua musculatura está tensa”, “Seu coração está acelerado”. É como um painel de carro mostrando a pressão dos pneus. Com essas informações, a pessoa aprende a perceber os sinais do próprio corpo e, com prática, a se acalmar antes que a ansiedade tome conta.
Como o feedback é dado?
O feedback pode ser verbal, escrito ou até audiovisual. Na sessão, o terapeuta pergunta: “O que mais marcou para você hoje?” ou “Tem algo que eu fiz que te incomodou?”. No final, é comum haver um momento dedicado só a isso — como um “check-in” do relacionamento terapêutico.
Por escrito, o paciente pode manter um diário de pensamentos, onde anota: “Hoje me senti um fracasso porque atrasei no trabalho”. Ao revisar isso com o terapeuta, ele percebe: “Espere… será que ‘fracasso’ é a palavra certa? Ou foi só um dia difícil?”. Esse diário vira um espelho do interior, ajudando a ver padrões.
Há também questionários simples que medem o nível de ansiedade ou tristeza ao longo do tempo — como um gráfico de temperatura emocional. Se os números baixam, é um sinal claro de que o tratamento está funcionando. Se estacionam, é hora de mudar a estratégia.
O objetivo? crescimento, não julgamento.
O grande segredo do feedback na TCC é que ele não é uma crítica, mas um convite à reflexão. O terapeuta não diz “você está errado”, mas “vamos entender juntos o que aconteceu”. Ele elogia o esforço, não só o resultado: “Você se expôs hoje, mesmo com medo — isso é coragem”.
Além disso, o feedback permite ajustar o tratamento em tempo real. Se uma técnica de relaxamento não funciona, troca-se. Se o paciente diz que prefere escrever a falar, o terapeuta adapta. É como um GPS que recalcula o caminho quando há engarrafamento — a meta é a mesma, mas o caminho pode mudar.
E você, pode aplicar isso no dia a dia?
Claro! Mesmo sem terapia, você pode usar o espírito do feedback para melhorar suas relações e seu autoconhecimento:
1. Peça retorno com curiosidade, não defensividade: em vez de “Você tá me criticando?”, pergunte: “O que você percebeu quando eu fiz isso?”
2. Dê feedback com empatia: em vez de “Você errou”, diga “Percebi que isso não saiu como o esperado. O que acha que aconteceu?”.
3. Use um diário breve: anote, ao fim do dia, um pensamento que te incomodou e pergunte a si mesmo: “Isso é 100% verdade? Ou é só uma impressão?”
4. Monitore seu estado emocional: Uma vez por semana, dê uma nota de 1 a 10 para seu nível de estresse, tristeza ou alegria. Veja os padrões.
5. Seja seu próprio supervisor: Revise suas ações com gentileza: “O que funcionou? O que eu faria diferente?”
Conclusão.
No fundo, a TCC nos ensina que melhorar a mente é como treinar um músculo: precisa de prática, orientação e, acima de tudo, de informações claras sobre como estamos indo. O feedback é esse guia. Ele transforma o processo terapêutico de um monólogo distante em uma conversa humana, real e transformadora. E, no fim das contas, é isso que cura: não apenas técnicas, mas a certeza de que você está sendo ouvido, compreendido — e acompanhado no caminho de volta a si mesmo.